A produção de material didático no mestrado profissional em História

Professora da Educação Básica, com mestrado profissional em História, narra os desafios e conquistas ao desenvolver pesquisa relacionada ao ensino de História.

Juliana Kummer Perinazzo Ferreira- UFG/UFU

março de 2022

Capa do caderno temático Enfrentando o silenciamento: as mulheres no ensino de História

Participar de um mestrado é sempre um desafio sendo ele profissional ou acadêmico. Para mim, não foi diferente. Precisei conciliar estudo, trabalho, casa, filhos e marido. Já nessa fala a gente percebe a sobrecarga de muitas mestrandas. Mulheres que decidem – por diversos fatores – continuar o seu processo de profissionalização e qualificação  um pouco mais tarde. E como disse, para mim não foi diferente.

No ano de 2014, quando abriu o edital para o Mestrado Profissional em História na UfCat, em Catalão (na época ainda era UFG) decidi participar do processo seletivo, mas, não tinha esperanças de ser aprovada, pois já estava fora das discussões acadêmicas há quatorze anos. Além disso, meus filhos tinham dois e cinco anos e eu trabalhava o dia inteiro nas redes estaduais e municipais de Caldas Novas-Go, restando pouco tempo para poder estudar e me dedicar ao processo seletivo.

Mesmo assim,  fiz a inscrição e comecei a me dedicar etapa por etapa. Inicialmente, era o projeto de pesquisa que deveria ser entregue no ato da inscrição do processo seletivo. Meu primeiro grande desafio! Eu queria pesquisar sobre mulheres na história, mas não sabia bem ao certo o quê. Comecei as leituras sobre diversos temas –  como fazer projetos de pesquisas, sobre gênero, sobre mulheres –  pesquisando artigos no Google Acadêmico sob a orientação de uma amiga. Nem sabia que existia isso!

Fiz o projeto e fui passando nas etapas. No dia da entrevista descobri que a pesquisa, por ser um mestrado profissional, deveria ser no campo da educação e do ensino de história. Mas, passei. Apesar disso, o meu projeto foi visto como muito genérico, impossível de ser viabilizado ou exequível. Precisei repensar tudo.

Como orientadora foi indicado para mim a Profª Drª Lilian Marta Grisólio, que me ajudou muito nesse processo do pensar em como seria a pesquisa e o que deveria ser feito. E, como era a primeira turma de mestrado de História da UfCat, era também para as/os professoras/es algo novo. O desafio foi de mão dupla! Durante o semestre tivemos um encontro com a Profª Drª Júlia Matos da FURG, e nesse ela falou da possibilidade dos mestrados profissionais produzirem produtos educacionais. Lembro que a professora Lilian falou assim: “Juliana estou com umas ideias aqui….”.

Então, a partir das indagações e do desafio proposto pela Profª Lilian, decidimos que confeccionaríamos um material didático sobre a participação feminina na História. Já que nos artigos que havia lido, as/os autoras/es apresentavam-nas como invisibilizadas e silenciadas, fazendo parte de boxes separados, ou textos complementares nos livros didáticos.

Para a construção do material didático pensamos em diversas possibilidades. A primeira etapa se deu em como faríamos isso; que períodos seriam abarcados; que mulheres seriam mencionadas; como seria a estrutura do trabalho, que  intitulamos de Caderno Temático. Mas por que Caderno Temático? A intenção era de produzir algo que fosse utilizado como suporte, que a primeira vista não causasse repulsa nos professores, em que eles não pensariam: “mais um livro didático?”. Então, começamos a elaborar o material a partir dessa visão, de algo a mais, que pudesse de alguma forma contribuir para o trabalho pedagógico das/os professoras/es. Mas nunca como algo fechado, a proposta era de apresentar  sugestões que mobilizassem as/os professoas/res a utilizar a sua criatividade e sua autoria.

Decidimos então dividir esse material por série do Ensino Médio:

  • Para a 1ª série do EM – As mulheres no Renascimento;
  • Para a 2ª série do EM- As mulheres na Revolução Francesa;
  • Para a 3ª série do EM- As mulheres na ditadura civil-militar no Brasil;
  • E, um quarto tópico- As mulheres goianas, contemplando algumas mulheres que participaram da história de Goiás e que não se fazem presentes nos livros didáticos.

A próxima etapa foi descobrir onde estavam essas mulheres, nesses contextos históricos, quem eram elas. Para isso, fiz uma extensa e intensa pesquisa na internet, o que havia sido pesquisado e escrito sobre elas, quem eram e o que fizeram durante suas vidas. Para essa escolha me baseei nas mulheres que haviam sido “resgatadas” pela historiografia através das pesquisas e escrita de artigos científicos. Fui a período por período, lendo tudo o que encontrava e selecionando os materiais que utilizaria para a confecção do caderno temático.

Mulheres e suas produções escolhidas. Precisei pesquisar e ler sobre como escrever um material didático, porque também não tinha ideia por onde começar. Parece tarefa fácil, mas não é, porque além das mulheres e material escolhido queria relacionar com as leituras teóricas que havia feito durante a participação das disciplinas do mestrado. Não basta produzir um material didático, é necessário compreender que tipos de saberes serão produzidos com aquilo que foi proposto. Por isso, considero essencial e primordial que professoras/es façam mestrados profissionais e não acadêmicos – não estou desconsiderando nenhum dos dois -, tenho uma clara visão de minha vida profissional antes, durante e depois de ter participado do mesmo. Mas, vejo que o mestrado profissional, por ser próprio para professoras/es, abarca uma formação mais ampla, não só destinada a pesquisa, mas próprio aos saberes do ser e do fazer do/a professor/a.

Para confeccionar o caderno temático precisei me apropriar de  metodologias de como se trabalhar com vídeos, imagens, fotografias, textos, sites; de como propor atividades diversificadas; sempre pensando em produzir um material de fácil uso e que pudesse criar condições para que as/os professoras/es também utilizassem a sua criatividade.

Como inspiração,  utilizamos um material já produzido por um mestrado profissional, mas na área de Ciências. O formato ficou do tamanho de um caderninho, metade de uma folha A4 que pudesse ser encadernado. Pensamos no início não só num texto de abertura, mas também em uma carta aberta aos/às professores/as  explicando sobre o material. Para a capa selecionei imagens de algumas das mulheres que se fazem presentes no material e uma aluna da Profª Lilian fez a montagem. E, pedi a um aluno da Educação Básica  que fizesse um desenho mostrando diversas mulheres para também colocar no material.

Desenho confeccionado pelo aluno Marcos Reis, na época estudante do Ceja- Filostro Machado Carneiro

 

Não tive orientações de designer então tudo o que fiz, como montei, foi através das discussões que tive com a minha orientadora e pensando na minha profissão, em como gostaria de ter um material didático. O resultado foi o Caderno Temático “Enfrentando o silenciamento: as mulheres no ensino de História”.

Consegui vencer esse desafio, apesar de que hoje olho para trás e vejo que ele tem sim muitas falhas, mas acredito que isso faz parte das novas pesquisas e estudos que vamos desenvolvendo.