Cidade, Memória e História

A Profa. Dra. Sonia Regina Miranda, fala sobre suas experiências e trajetória acadêmica na Educação, História e Geografia.

Victor Ridel Juzwiak - UFU

Tássita de Assis Moreira - UFU

fevereiro de 2021

Desde jovem, sabia que queria ser professora. Por essa razão, a professora Sonia Regina Miranda cursou a Escola Normal e depois se graduou em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Durante a graduação em História, teve suas primeiras experiências como professora em uma associação de cegos, na qual ela teve a oportunidade de aprofundar suas reflexões sobre os processos de ensino e aprendizagem. Além dessa experiência, atuou também em um museu da cidade e no Colégio Magister, que na década de 1980 foi um importante espaço educacional, pois era uma escola de inovação e de tradição democrática.

A professora Sonia Regina Miranda. Foto: Arquivo pessoal

O início da carreira como professora no ensino superior se deu em 1987, após ser aprovada em um concurso para o departamento de História da UFJF. Ao assumir o cargo na universidade, ficou incumbida de ministrar a disciplina de História Econômica, nos cursos de História e Geografia. Neste mesmo período ingressou no mestrado, no qual, realizou o mapeamento da evolução urbana da cidade de Juiz de Fora (MG). A pesquisa intitulada “Cidade, Capital e Poder: políticas públicas e questão urbana na Velha Manchester Mineira”. Sua experiência como professora nos cursos de História e Geografia permitiu aproximações com as epistemologias de ambas áreas do conhecimento, resultando em uma pesquisa interdisciplinar e que transita entres os dois campos do conhecimento. O aprofundamento nas epistemologias de diferentes áreas do conhecimento permitiu a construção de conexões entre a relação do espaço e do tempo.
Desde que ingressou no departamento de História, Sonia Miranda era uma professora que tinha interesse nas questões relacionadas a educação, ensino e formação de professores. Ao voltar do mestrado, recebeu um convite da Faculdade de Educação, para assumir a disciplina de didática da História. Neste momento, início da década de 1990, estavam ocorrendo diversos movimentos para se repensar a formação de professores. Neste sentido, junto com outras professoras como Ernesta Zamboni e Selva Guimarães, o campo do ensino de História começou a ser consolidado.
Devido a dificuldades burocráticas e políticas dentro do departamento de História, a professora Sonia optou por se transferir para a Faculdade de Educação. Ao relembrar esse processo a professora afirma “Foi a melhor decisão que eu fiz, eu estava infeliz no departamento de História que só desvalorizava o campo do ensino, que não tinha objeto, não tinha legitimidade”. Dois momentos que marcaram sua decisão por seguir no campo do ensino de História: sua participação no I Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História e quando conheceu Ernesta Zamboni, em um curso sobre o ensino de História.
Em 2001, Sonia Miranda ingressou no doutorado, mas ela afirma que este período de 10 anos entre o mestrado e o doutorado foi fundamental para sua formação, uma vez que teve oportunidade de amadurecer e aprofundar suas reflexões. O doutorado realizado sob orientação da professora Ernesta Zamboni, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), foi uma experiência muito marcante em sua trajetória. Apesar de não ter seguido carreira como pedagoga, sua passagem por essa formação permitiu a aproximação com a escola, atuando em pesquisas que englobavam o universo de professores dos anos iniciais. Neste sentido, em sua pesquisa do doutorado teve como objetivo estudar o saber histórico dos professores dos anos iniciais que ensinam História sem ter formação específica na área.
Além do processo de pesquisa e da experiência no estágio docente na UNICAMP, a orientação de Ernesta Zamboni  foi muito marcante. O modo de orientação era baseado na proposta de que o grupo é a substância e o indivíduo é um acidente. Dessa forma, o processo de orientação tinha como foco e centralidade o grupo, isto é, a partir de relações horizontais. A participação de alunos de graduação e alunos da pós-graduação ocorria sem distinção de hierarquia. Isso foi determinante para que Sonia compreendesse o funcionamento de um grupo de estudos e futuramente criasse um grupo de pesquisa em sua universidade que tivesse o mesmo sentido de funcionamento. Um dos aspectos mais importantes da forma de orientação proposto por Ernesta Zamboni, era a orientação para consolidação do campo do ensino de História.
Durante esse período foi criado o guia de formulação e avaliação de livros didáticos para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) . Após o convite de Zezé Feres, Sonia passa a coordenar o PNLD. Nesse processo, foi possível construir um acervo de livros didáticos produzidos no Brasil e passou a constituir pontes para uma nova área do conhecimento, que é a da política pública e dos materiais didáticos. Essa primeira experiência com o PNLD resultou em diversos convites ao longo dos anos, que permitiram a aproximação e aprofundamento neste campo. A partir disso, alunos com interesse nessa área se aproximam para orientações.
Depois do fim do doutorado, Sônia passou a orientar pesquisas na pós-graduação e, em 2012, realizou o pós-doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona. Com orientação de Joan Pàges , a pesquisa teve como tema a memória e a construção do saber histórico. Dessa forma, o aprofundamento dos estudos sobre a memória conecta toda sua trajetória acadêmica, uma vez que, no mestrado e no doutorado a memória era um tema presente, no entanto, não aprofundado. Os resultados do pós-doutorado foram publicados em parceria com a professora Lana Mara Castro Siman no livro “Cidade, Memória e educação”. A formação da professora Sonia é múltipla e diversa, segundo ela, “minha formação ocorreu em vários lugares, sou formada no Colégio Magister, em Barcelona. Não existe um lugar de formação”.
Recentemente, na universidade, o projeto que estendeu a pesquisa de pós-doutorado, junto com alunas de doutorado, gerou a caixa didática, intitulada “Cidade para professores”. Foi um projeto que ganhou bastante reconhecimento, sendo selecionado pela FAPEMIG para ser apresentado no “Inova Minas”, feira de negócios, inovação e tecnologia de Minas Gerais.
Atualmente, a professora Sonia Miranda está em processo de afastamento da universidade por causa da aposentadoria, porém se mantém ativa como colaboradora no programa de pós-graduação e com orientações.